
“Wolfwalkers” conta a história de Robyn (voz de Honor Kneafsey), uma jovem caçadora aprendiz que viaja até a Irlanda com o pai para eliminar a última alcateia de lobos. Mas tudo muda quando ela se torna amiga de Mebh (voz de Eva Whittaker), integrante de uma tribo misteriosa, cujos membros supostamente se tornam lobos ao anoitecer.
A animação leva a assinatura da Cartoon Saloon, produtora irlandesa de grife, que costuma marcar presença no Oscar com suas obras. Tomm Moore, que dirige “Wolfwalkers” ao lado do estreante Ross Stewart, já concorreu à estatueta da categoria com “A canção do mar” e “O segredo dos Kells”.

Ao contar como entrou para esta trupe prestigiada de animadores, Damasceno lembra da dica dada por uma amiga, que o alertou para uma oportunidade de vaga de trabalho na Cartoon Saloon como supervisor de arte final de cenários em “Wolfwalkers”.
— Em 2018, eu tinha muitas dívidas e poucas perspectivas de quitá-las. Estava morrendo de medo, mas não tinha muita opção, então me inscrevi — diz o animador. — Eles curtiram meu trabalho com quadrinhos e gostaram de saber que eu tinha alguma experiência com animação, então me chamaram.
Atuando nos ‘porões’
Formado em Produção Editoral, Damasceno decidiu, em 2010, se dedicar mais à função de quadrinista. Junto com o amigo Luís Felipe Garrocho, lançou os romances gráficos “Achados e perdidos”, “Cosmonauta Cosmo” e “Quiral”. E por muitos anos foi um dos coordenadores do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte).

Nas animações, o brasileiro atua pelos “porões”, que é como ele chama os departamentos de cenário. Em “Wolfwalkers”, particularmente, seu trabalho pode ser visto no contraste entre a harmonia dos traços fluidos da floresta em relação às construções geométricas e retilíneas da cidade.
— Para os cenários no vilarejo, utilizamos uma técnica que imitava xilogravura. Para a floresta, a finalização era a lápis, então desenhamos cada camada do layout separadamente em folhas A3, escaneamos e tratamos as imagens para construir o cenário digitalmente — detalha Damasceno.

Na corrida pelo Oscar, “Wolfwalkers” deve ter dificuldade para bater “Soul”, animação da Pixar/Disney franca favorita à estatueta de melhor animação. Mas não deixa de ser louvável a disputa contar com um projeto de orçamento modesto e dono de visual aquarelado e tradicional, bem distante de técnicas digitais rebuscadas.
‘Um filme honesto’
Para Damasceno, “Wolfwalkers” é um filme que está mais próximo do método de produção de algumas das animações mais antigas da Disney como “Mogli” ou “101 Dálmatas”, com ênfase no resultado que o desenho e a pintura tradicional podem trazer.
Entre a modernidade e o clássico, ele acredita que há espaço para todo tipo de trabalho no setor.
— Não acho que precisa haver uma luta entre o autoral e os grandes estúdios. Essa lógica de competição e eterno desgaste das coisas está fadada ao fracasso — diz o brasileiro. — A Cartoon Saloon, que é uma produtora local, conseguiu financiamento para tocar “Wolfwalkers”, pagou os artistas durante o período, e um filme muito legal foi feito. É isso que importa.

Indicada ao Globo de Ouro e Bafta, a animação acumula 21 vitórias de um total de 66 nomeações. Agora rumo ao Oscar, ela aposta em seu deslumbrante visual como vetor de mensagens sobre amizade, liberdade e preservação ambiental.