Perfil de Pessoas: Angela Cortez – Vice Presidente de Licenciamento, Varejo e Experiências Latam da Miraculous Ladybug

Angela Cortez – Vice Presidente de Licenciamento, Varejo e Experiências Latam da Miraculous Ladybug

  1. Como você entrou no licenciamento (ou como o licenciamento encontrou você)?

Desde muito jovem, meu sonho era trabalhar para poder estudar e proporcionar uma vida melhor aos meus pais. Comecei minha carreira aos 15 anos e, ainda muito cedo, tive meu primeiro contato com o mundo do licenciamento enquanto atuava como compradora de produtos infantis no Makro Atacadista. Foi ali que conheci o poder das marcas licenciadas — como Looney Tunes e Animaniacs — e vi de perto como elas impactavam diretamente nas vendas.

Esse primeiro encontro despertou em mim uma curiosidade e uma paixão que só cresceriam. Em seguida, fui convidada para integrar o time do Walmart Brasil, logo no início da operação. Lá, tive a oportunidade de desenvolver estratégias com marcas como Disney, Warner Bros., Turma da Mônica e Barbie — e vi como o licenciamento era parte fundamental do varejo moderno. A visão de quem esteve dos dois lados — como compradora e depois como licenciadora — sempre me deu uma perspectiva 360º que fez toda a diferença na forma de construir soluções relevantes para os parceiros.

Mais tarde, no Grupo Garantia, tive o privilégio de unir licenciamento e experiências ao vivo nos parques Playcenter e Hopi Hari, com destaque para a Vila Sésamo. Foi nesse momento que entendi, com mais profundidade, como as marcas ganham vida e criam conexões reais com o público.

Ao longo da minha trajetória, tive o privilégio de construir marcas incríveis e participar de lançamentos marcantes, como Meninas Superpoderosas, Pucca, Backyardigans, SpongeBob e Paw Patrol. Essa jornada só reforçou o que já estava no meu coração: o licenciamento é mais do que uma estratégia — é uma ponte entre emoção, consumo e propósito. Hoje, posso dizer com orgulho que essa indústria me encontrou… e me escolheu.

 

  1. Qual é a sua rotina na posição atual?

Rotina, sinceramente, tem sido um desafio — especialmente quando lidamos com uma marca francesa, sediada nos Estados Unidos, e com atuação no Brasil e toda America Latina. Em um momento em que o mercado de licenciamento passou por transformações profundas — muito diferente da época em que poucas marcas dominavam e a presença na TV aberta era decisiva — hoje é essencial atuar com estratégia, agilidade e visão integrada.

Na minha posição atual, lidero a operação de Consumer Products para a América Latina, com foco na construção de uma estratégia glocal, ou seja, que respeita a essência global da marca, mas se adapta com inteligência às particularidades e estágios de maturidade de cada país da região.

Meu tempo se divide entre:

Desenvolver planos estratégicos com minha equipe, com uma visão 360º, colocando o consumidor e os fãs no centro de tudo;

Apoiar nossos licenciados na criação de soluções inovadoras, relevantes tanto para o negócio quanto para a marca;

Trabalhar internamente em alinhamento com áreas globais como conteúdo, marketing e redes sociais;

Apresentar resultados, forecasts e liderar uma equipe regional comprometida com performance, criatividade e consistência.

 

  1. Qual é a sua maior realização pessoal e profissional?

Minha maior realização pessoal é, sem dúvida, a minha família. Ter conseguido realizar meu sonho de infância — ajudar meus pais e proporcionar a eles momentos de conforto e alegria que estavam além da realidade que viveram — é algo que me emociona profundamente. E, ao lado do meu esposo, formar uma família com dois filhos incríveis é minha maior fonte de gratidão e orgulho.

Meus filhos sempre me apoiaram, mas mais do que isso: sempre foram responsáveis, dedicados e conscientes. Isso me deu ainda mais tranquilidade para me dedicar plenamente à minha carreira e aos meus projetos especiais — como o meu livro, minha arte e minha jornada como mentora.

Outro pilar fundamental nessa trajetória pessoal foi ter conhecido a filosofia budista, que trouxe uma transformação profunda na minha forma de ver o mundo, lidar com desafios e viver com mais consciência, coragem e gratidão. Essa prática espiritual me fortalece diariamente e me ajuda a manter o equilíbrio mesmo nos momentos mais difíceis. Sou profundamente grata por essa descoberta que mudou minha vida de dentro para fora.

No aspecto profissional, minha maior realização é olhar para a carreira que edifiquei com propósito, integridade e paixão. São mais de 35 anos de trajetória, marcados por desafios, superações e conquistas — e, acima de tudo, por uma rede global de conexões genuínas com pessoas que o universo generosamente colocou no meu caminho.

Tenho orgulho de ter construído uma trajetória sólida, transparente e de ter contribuído para o desenvolvimento de marcas que conectam emocionalmente com o público e fazem parte da vida das pessoas. E talvez seja por isso que eu me identifico tanto com o conteúdo que trabalho hoje — como Ladybug, uma marca que fala de coragem, propósito e transformação, valores que refletem profundamente a minha própria história.

 

  1. Quais são as tendências ou mudanças mais significativas que você viu no negócio nos últimos anos?

Sem dúvida, as transformações mais significativas que presenciei nos últimos anos foram a transição do conteúdo linear para o não linear e o avanço vertiginoso das redes sociais. Essas duas mudanças reconfiguraram completamente o mercado de consumo e licenciamento — influenciando desde a descoberta de conteúdo até as decisões de compra.

A explosão das plataformas de streaming e o poder dos criadores de conteúdo nas redes sociais mudaram o centro de influência: novas celebridades surgiram, novas linguagens foram criadas, e as marcas passaram a disputar a atenção de um consumidor cada vez mais fragmentado e imediato.

Hoje, o digital dita o ritmo. Um estudo recente da Deloitte mostrou que 84% da Geração Z e 81% dos Millennials consomem conteúdo em plataformas digitais diariamente — e é nessas plataformas que tendências nascem, viralizam e desaparecem em questão de dias.

Esse cenário exige das marcas e dos profissionais uma escuta ativa, decisões mais ágeis e estratégias que combinem dados, propósito e autenticidade. Para mim, como profissional com visão 360º do negócio, essa mudança representou uma grande oportunidade: de adaptar formatos, acelerar a inovação e construir novas formas de conexão com os fãs — especialmente com marcas como Ladybug, que têm DNA digital e dialogam diretamente com esse novo consumidor.

 

  1. O que te mantém acordado à noite? Qual é o seu maior desafio atualmente?

Continuar expandindo a marca Miraculous Ladybug na America Latina maximizando o potencial da marca em cada pais e o que me tira o sono — no melhor sentido — é o desafio de continuar expandindo a marca Miraculous Ladybug na América Latina, maximizando todo o seu potencial em cada país, respeitando as particularidades culturais e o estágio de maturidade de cada mercado.

Trata-se de muito mais do que alcançar números. É sobre criar conexões reais com o público, transformar fãs em embaixadores da marca e entregar experiências consistentes e memoráveis — seja no varejo, no conteúdo ou nos produtos.

Conciliar uma estratégia regional com uma visão global, garantir relevância local, manter consistência de marca e inovar continuamente… tudo isso exige foco, criatividade, escuta ativa e muita paixão. E é justamente esse desafio que me move todos os dias.

 

  1. Na sua opinião, qual é a principal habilidade que todo executivo de licenciamento deve ter para ter sucesso?

Acredito que o sucesso no licenciamento começa com um profundo conhecimento da marca — sua essência, seus valores, seu posicionamento e seu público. Sem isso, é impossível construir parcerias relevantes e consistentes.

Mas conhecer a marca não basta. É essencial também saber analisar dados, interpretar pesquisas de mercado e acompanhar de perto os resultados das ativações e produtos. Um bom executivo de licenciamento precisa ouvir com atenção seus clientes e compradores, entender seus desafios e oferecer soluções que agreguem valor real ao negócio.

Outro ponto fundamental é dar suporte aos parceiros que apostam na marca, sendo um verdadeiro embaixador e facilitador, criando uma relação de confiança e de construção conjunta. As parcerias mais duradouras e bem-sucedidas nascem quando há visão de longo prazo e colaboração estratégica.

E, por fim, é indispensável ter uma mente aberta, curiosa e atenta ao mercado — capaz de identificar oportunidades, antecipar movimentos e adaptar-se rapidamente às mudanças do consumidor e do cenário competitivo.

Em resumo, o sucesso no licenciamento exige um equilíbrio entre visão analítica, sensibilidade comercial, escuta ativa e paixão por construir pontes entre marcas e consumidores.

 

  1. Qual foi o melhor conselho que você já recebeu e qual é a sua frase favorita?

O melhor conselho que recebi foi quando fui promovida a diretora de Licenciamento na Warner Bros. Um dos VPs me disse algo que levo comigo até hoje:
“Nunca perca sua humildade e sua essência, não importa a posição que você ocupe na sua carreira.”

Essa frase ficou gravada no meu coração. E junto com ela, uma outra que se tornou um mantra pessoal:
“Faça a diferença onde estiver.”

Esses conselhos me acompanham em todas as decisões que tomo — me lembram de manter os pés no chão, de valorizar as pessoas ao meu redor e de exercer a liderança com autenticidade, propósito e empatia. São princípios que fazem parte de quem eu sou e do legado que quero deixar.

 

  1. Qual é o seu case de sucesso favorito no licenciamento?

É difícil escolher apenas um, porque tive a sorte de viver cases realmente marcantes ao longo da minha trajetória. Mas posso destacar três que simbolizam diferentes momentos da minha carreira — e mostram como o licenciamento, quando bem trabalhado, tem poder de escalar negócios, criar conexão com o consumidor e deixar legado.

O primeiro foi quando eu ainda era gerente e fechei meu primeiro contrato com a Lupo. Começamos com um valor modesto, mas o negócio cresceu tanto que se tornou um dos principais da minha carteira, com resultados exponenciais. O sucesso foi tão expressivo que meu GM da época foi comigo até Araraquara para conhecer de perto a fábrica. Até hoje tenho um carinho enorme pela Lupo, por tudo o que aprendemos e construímos juntos.

O segundo foi o lançamento das Meninas Superpoderosas com a Riachuelo — uma verdadeira explosão de resultados. Criamos uma operação diferenciada, com ativações no PDV, coleções exclusivas e uma rotina intensa de colaboração. Eu passava um dia por semana no escritório da Riachuelo, apresentando ideias de produtos e materiais de estilo para os compradores de cada categoria. Os números foram impressionantes — e, honestamente, até hoje não vi algo tão expressivo no licenciamento nacional.

E o terceiro é um case que continua forte no mercado até hoje: o leite fermentado do Bob Esponja, além do fechamento da Paw Patrol com a Batavo pouco antes da minha saída da Paramount. Esse projeto teve um ciclo completo de liderança e continuidade, passando por marcas como Parmalat, Elegê e Batavo. Foi desenvolvido em parceria com Jaqueline Pádua, que hoje atua como consultora no nosso time. Esse case se tornou sinônimo de categoria — um exemplo de longevidade e consistência no licenciamento de alimentos.

Cada um desses projetos me ensinou algo diferente — sobre visão de negócio, relacionamento, criatividade e entrega. E todos eles reforçam o que mais acredito: licenciamento é sobre construir pontes entre marcas, parceiros e consumidores — com propósito, paixão e estratégia.

 

  1. Se você não estivesse no mercado de licenciamento, o que estaria fazendo agora?

Essa é uma pergunta que, de tempos em tempos, me faço também. Quando criança, sonhava em ser escritora — e esse desejo, felizmente, já realizei. Também tive o sonho de cursar odontologia, mas na época meu pai não tinha condições de pagar uma faculdade integral, e eu precisava trabalhar para conquistar meu espaço.

Com o tempo, percebi que havia algo mais profundo que me movia: o desejo de ajudar pessoas, transformar vidas e criar conexões verdadeiras. Por isso, às vezes me vejo como pastora ou guia espiritual, alguém que ora, escuta e inspira — porque acredito na força da fé, da espiritualidade e da conexão com o universo.

Hoje, se não estivesse no licenciamento, provavelmente estaria seguindo uma carreira como psicóloga. Sou fascinada pelo comportamento humano, pelas emoções, pelas motivações e pela capacidade que todos temos de evoluir. Amo estudar, ouvir, orientar — e ver o potencial das pessoas florescer.

No fim, tudo se conecta. Mesmo no licenciamento, meu propósito sempre foi construir pontes: entre marcas e consumidores, entre ideias e resultados, entre pessoas e seus sonhos. Seja onde for, minha essência sempre me levaria por esse caminho de transformação.

 

  1. O último produto licenciado que comprei foi… ?

A boneca da Wandinha, da Novabrink, com a fantasia completa — um presente para minha afilhada. Ela simplesmente amou! Ver a alegria dela ao brincar com a personagem só reforça o poder que uma marca tem de encantar, inspirar e criar